Ontem em um grupo de interação entre comunidade surda, postei uma filmagem que meu filho Nicolas(surdo de 14 anos) fez e compartilhou no grupo da família. Ele presenciou um acidente com uma idosa, o medo, omissão e desrespeito de um motorista com essa senhora. Ao socorrerem uma senhora que caiu na calçada ao se movimentar para entrar em um ônibus(lotação) e ao ser socorrida foi colocada dentro do ônibus, ao me ouvir sugerir que melhor seria chamarem a ambulância, o motorista percebeu que se tratava de algo mais grave e quis que tirassem a senhora de dentro do coletivo, para evitar problemas futuros, caso essa senhora que no momento gemia de dor, pretendesse futuramente ajuizar uma ação contra a empresa, alegando ter caído dentro do ônibus. Eu pedi para que ele a socorresse deixando na upa que estava a poucos metros, ele se negou dizendo que perderia tempo, que estava atrasado. que ao deixa-la na upa, poderiam novamente achar que ela sofrera o acidente no ônibus, me ofereci para testemunhar atestando a inocência da empresa e boa ação dele ao socorre-la e o mesmo disse que não podia perder tempo.
Deixei claro que não permitiria a retirada da senhora sem um ato de socorro fosse por meio dele ou de uma ambulância. A senhora foi socorrida(não por ele). Ele fez o B.O policial para resguardar a si e a empresa e seguiu a rota.
Ao chegar em casa descobri por meio de uma postagem no grupo familiar que meu filho gravou algumas partes do ocorrido e se posicionou com autonomia de forma critica diante da ação do motorista.
compartilhei a iniciativa dele em um grupo de comunidade surda e justifiquei a forma como ele se referiu a senhora, tentei deixar claro que ao dizer a VELHA caiu, ele não estava desrespeitando, que de certa forma muitas palavras são reduzidas a uma em libras. Citei que as palavras idosa, senhora, vovó são usadas com o mesmo sinal gestual em libras, mas disse isso me referindo a libras como uma língua reduzida se comparada a língua portuguesa.
Porém como o comentário foi feito em um grupo, onde temos educadores, família, interpretes e surdos o assunto rendeu muito. Gerou uma discussão acalorada entre mim (mãe de um surdo que nunca foi incluído de fato no sistema educacional) e uma interprete que sempre vestiu a camisa da língua e não a do surdos. Segundo ela eu errava ao me referir a libras como reduzida. Eu tentei explicar o que quis dizer e peguei como exemplo a palavra ALVO. Não sei se apenas por impulso ou falta de entendimento a mesma disse que me faltavam estudos.
Nesse momento foi inevitável não comparar meu filho nunca incluído, filho que eu ensinei com as limitações de minha quinta série, mas com a bagagem que a vida me proporcionou sendo eu filha, sobrinha, prima, tia e mãe de surdos, tendo eu crescido em meio aos surdos, que não conheceram libras, mas nunca foram limitados pelo sistema, sendo eu a mãe que se negou a aposentar o filho por invalidez aos 11 meses de vida como me foi proposto. Como não comparar? Meu filho aos filhos do silêncio que passaram por essa "profissional" e por tantos outros como ela.
Mas eu louvo à Deus, porque tem TANTOS OUTROS, LUTANDO para dar AUTONOMIA AOS SURDOS, esses vestem a camisa, são oprimidos por um sistema que não dá condições adequadas de trabalho, esses tem que trabalhar com surdos de famílias que foram confundidas por profissionais "sem empatia" com a necessidade dos surdos em ter aquisição a sua língua desde cedo, língua que oportuniza a aquisição de outras línguas. vale ressaltar que esses profissionais infringem a lei, pois além de não cumprirem com o dever de informar como determina a lei, eles ainda induzem ao erro.
Mesmo em meio a dor da incompreensão eu sei que quem tornou meu filho capaz de discernir, ler, falar, ter senso critico fui eu. Me negaram cursos de libras, aprendi sozinha, eu propiciei a ele a opção de escolher entre falar com as mãos, com português escrito ou falado, meu filho nunca foi limitado no ato de comunicar-se, ainda assim, sinto que vivemos em uma sociedade limitada, sociedade essa que fala dos surdos como se eles não estivessem presentes, como se fossem invisíveis.
MINHA percepção sobre o conceito de incluir é:
INCLUIR É DAR CONDIÇÕES DE IGUALDADE AOS DESIGUAIS = EQUIDADE
Mas o que acontece na prática, "É" que estão abrindo o portão e deixando todos entrar sem conhecer a necessidade de cada um, não me refiro só aos surdos, aos deficientes, me refiro a toda a educação pública brasileira, é de suma importância que aqueles que pensam como eu se unam, que assim como eu e mostrem um modelo de inclusão que de fato inclua, estou a disposição para somar.
Uma breve explicação sobre meus questionamentos relacionados as duas línguas.
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Essa foto e a próxima são parte integrante do dicionário Capovilla |
Português e Libras( língua brasileira de sinais) nessas fotos acima, tem duas palavras e as duas com variações de significados.
Exemplo: digamos de em um tema proposto falem de violência.
1-O sujeito foi ALVO de investigação e ainda não se sabe se é culpado ou inocente. Pode sair livre ou condenado.
2-O sujeito foi ALVO de 5 tiros e foi socorrido com vida. Pode o sujeito ALVEJADO, talvez saia vivo ou morto.
3- Meu tapete branco foi ALVEJADO com um bom produto e esta até brilhando de tão branco.Ficou limpinho!
4- Meu ALVO é passar na prova, se eu estudar muito vou atingir meu objetivo, ser aprovado, se não, terei que estudar novamente e fazer nova prova.
5- Hoje o dia está ALVO, sem nem uma nuvem no céu. Não há sinais de chuva.
A palavra Geração a explicação esta em outro texto do blog sobre com o titulo "meu ponto de vista sobre PDI".
Falando agora sobre responsabilidades, ela é de todos nós, as famílias precisam ser orientadas de forma coerente pelos profissionais da saúde, da educação sobre a necessidade dos surdos no que tange o direito a aquisição das duas línguas juntas, é possível sim fazer oralização com surdos, inclusive com surdez profunda, me3u filho é prova viva disso. O meu filho eu fiz e faço sozinha com muito sofrimento, limitações, privações e principalmente perseguições de pessoas que extrapolaram todos os limites das criticas, perseguições que culminaram com um B.O policial contra meu filho aos 6 anos de idade, essa foi mais uma das tentativas de me parar depois que reclamei de um livro intitulado cantalelê, esse livro pedia a audição do Nicolas do começo ao fim.
Vale ressaltar que eu não briguei, eu reclamei e após a reclamação passamos a ser perseguidos, quando viram que eu não iria ceder, tentaram de forma leviana provocar um B.O contra mim, mantiveram meu filho na direção da Escola Municipal Tereza Paulino de Oliveira em Alfenas MG, por mais de 5 horas, chamaram a guarda municipal e fizeram o boletim de ocorrência, disseram ao meu filho que ele tinha errado, que iam chamar a polícia, alegaram que agiram corretamente, pois o mesmo (ELE AOS 6 ANOS) foi informado da decisão na língua dele. Esses profissionais corajosos são os mesmos que preenchem pdis (plano de desenvolvimento individual) declarando que nossos filhos não atingiram o objetivo proposto nas atividades.
Na ocasião o b.o foi confeccionado sem meu conhecimento, descobri ao chegar na escola uma cena toda armada, pessoas para me segurar caso fosse necessário, testemunhas para a confecção de um b.o, e até mesmo a frustração quando eu simplesmente ouvi meu filho, que ao chegar percebi o medo nos olhos assustados, pedi para acalmar e me contar o que houve e ouvi uma linda historia da tentativa de salvar um besouro, que não tinha verde para comer na escola e nem terra para esconder, que o pegou pois se levasse pra casa ele poderia viver, empurrou um coleguinha que tentou matar o besouro, e ao ser repreendido pela professora que não entendeu o ato (professora com conhecimento de libras, não quis ouvir a explicação dele), e quis além de por de castigo tomar o bichinho, ele para defender o bicho atirou sobre ela a mochila com um caderno brochurão....
A historia é longa, não briguei, não teve b.o contra mim, fui ao MP denunciar, ouvi de um promotor que não havia crime, ouvi que não EU não era ninguém quando pedi que me desse por escrito que não havia crime, me ouviram, me ignoraram, me negaram o direito, insisti, consegui ser ouvida, me negaram novamente, depois arquivaram sem o conhecimento do juiz da infância e juventude, ameacei tornar público, fui ameaçada, reabriram, montaram sindicância, mas não tem ninguém presidindo a sindicância, não sei a quantas anda o processo, não sei se ainda existe.... Mas sei que JUSTIÇA será feita... Creio na promessa de um Deus soberano.